Dentre todas as atividades físicas que evoluíram nas últimas décadas, sem dúvida, a corrida é uma das que mais merece destaque.
Afinal, basta olhar uma prova de corrida de rua para perceber quantas pessoas praticam a atividade de maneira regular, participando desses eventos.
Se antigamente era difícil encontrar provas de corrida, atualmente, é difícil escolher com tantas opções no mercado.
Além de muitas provas, surgiram também equipes de treinamento, as chamadas assessorias esportivas, dedicadas à corrida. Com isso, o exercício se popularizou e ganhou muitos adeptos.
Mas a prática da corrida com aumento do volume de treinos de maneira súbita, bem como aumento da intensidade, sem o devido fortalecimento adequado, traz o risco de lesões.
Dentre as lesões mais comuns que podem acometer o corredor, inclusive recebendo o nome de joelho de corredor, está a síndrome do trato iliotibial.
De fato, o nome científico correto para o joelho de corredor é a síndrome do trato iliotibial.
Mas o que é essa síndrome? Como é seu diagnóstico e o que inclui seu tratamento? Há formas de evitá-la? É sobre todos esses temas que falaremos, confira!
O que é a síndrome do trato iliotibial?
A síndrome do trato iliotibial é uma condição na qual o trato iliotibial apresenta-se inflamado.
O trato iliotibial é uma faixa fibrosa, localizada na lateral da coxa, que possui inserção na lateral do joelho e na região do quadril.
Quando, por diversos motivos, há tensão excessiva nessa faixa, geralmente o indivíduo sente dores na lateral do joelho.
Inclusive, nesses casos, ele pode achar que está com algum problema específico do joelho, mas o problema está justamente na carga excessiva e inadequada que o trato iliotibial recebe.
A inflamação desse feixe fibroso é bastante comum em quem pratica corrida de longa distância, ou seja, para aqueles atletas que treinam para provas com muita quilometragem, como meias maratonas (21,095 km) ou maratonas (42,195 km).
Atletas amadores e profissionais que treinam para performance em provas de menor quilometragem, como provas de 5 km e 10 km por exemplo, não estão livres dessa lesão, sobretudo se a rodagem semanal é alta.
Assim, torna-se um tipo de lesão muito comum em praticantes de corrida de rua, sobretudo em aqueles que estão treinando para provas de maior quilometragem ou com rodagem de treinos alta.
Sintomas
O principal sintoma da síndrome da banda iliotibial é a dor na lateral do joelho.
Dor no quadril também é comum, uma vez que o trato iliotibial insere-se tanto na lateral do joelho quanto no quadril.
No caso de praticantes de corrida, a dor geralmente se inicia após alguns quilômetros de rodagem e tende a piorar, resultando inclusive na necessidade imediata de interrupção do treino.
Infelizmente, muitos corredores, ao sentirem a dor aguda na lateral do joelho, interrompem o treino, mas não buscam maiores informações ou diagnóstico adequado.
De fato, somente a interrupção momentânea dos treinos não fará com que a dor não surja mais.
Algumas posturas, como por exemplo, sentar e cruzar as pernas, pode servir de gatilho para dor também.
Diagnóstico
O diagnóstico da síndrome da banda iliotibial é geralmente realizado pelo médico ortopedista, com avaliação predominantemente clínica.
Com avaliação física adequada e a descrição do tipo de dor pelo paciente, o médico ortopedista já poderá suspeitar que esse seja um caso de síndrome da banda iliotibial.
Após a realização de alguns movimentos, o médico chegará ao diagnóstico final.
Exames de imagem podem até ser solicitados, mas não são absolutamente essenciais para o diagnóstico da síndrome.
Causas
Conforme já descrito, a principal causa da síndrome da banda iliotibial está ligada ao aumento do volume de treinamento na corrida ou aumento da intensidade.
Geralmente, esse aumento no volume não vem acompanhado, muitas vezes, a um programa de fortalecimento adequado.
Com o enfraquecimento da musculatura do quadril e dos membros inferiores, a tendência é que o impacto e a tensão seja direcionada de maneira inadequada ao feixe do trato iliotibial, que não foi feito para suportar tamanha demanda.
Dessa forma, o feixe se inflama, resultando em dor.
Ou seja, a principal causa está relacionada a musculatura enfraquecida sobretudo da região do quadril.
Outro fator que pode estar relacionado à inflamação da inserção do trato iliotibial é o desequilíbrio biomecânico durante a corrida, bem como a falta de um calçado apropriado.
Esses dois fatores também podem impactar negativamente na inserção do trato iliotibial, levando à inflamação na região.
De fato, há fatores predisponentes que contribuem para o encurtamento do trato iliotibial, que são: a diferença no comprimento entre as pernas, rotação interna no joelho e pé plano, por exemplo.
Por último, o treino em superfícies inclinadas tendem a causar maior tensão no trato iliotibial, podendo contribuir para a instalação e manutenção da patologia.
Tratamento da síndrome da banda iliotibial
O tratamento da síndrome da banda iliotibial envolve dois momentos. Em um primeiro momento, é importante retirar o indivíduo do quadro agudo de dor.
Nesse caso, que geralmente é o que leva o paciente a buscar tratamento médico ortopédico, com o diagnóstico feito de maneira adequada, o médico poderá prescrever analgésicos e anti-inflamatórios.
Além disso, nesse primeiro momento quando há dor aguda, é importante suspender a atividade física, para fornecer condições ao organismo de iniciar sua recuperação.
Outra ação bastante eficaz nesse momento é a crioterapia, ou seja, a utilização de compressas de gelo no local.
Em um segundo momento, quando a dor aguda já não está presente, é necessário um programa de fortalecimento específico para o indivíduo.
Essa é uma lesão considerada por muitos como “teimosa”, uma vez que quando não se faz o tratamento de fortalecimento adequado, a tendência é que a dor se manifeste com o retorno aos exercícios físicos.
No caso de um programa de tratamento adequado para o trato iliotibial inflamado, exercícios de fortalecimento são essenciais, justamente para que a dor não retorne e a musculatura esteja preparada para receber a carga de treinamento.
Além disso, é importante que o treinamento de corrida seja feito de maneira adequada, com aumento da carga de treinamento de maneira lenta e gradual.
Infelizmente, muitas pessoas começam a treinar sem a devida orientação de um profissional, seguindo planilhas da internet e aumento o volume de treino de forma descabida.
Com isso, o surgimento de lesões com essa que é inclusive chamada de joelho de corredor acaba sendo inevitável.
Portanto, é essencial entender que o aumento de volume e a prática da corrida, por exemplo, deverá seguir um aumento gradual. Dessa forma, evita-se o ressurgimento da dor e da lesão.
Algo que infelizmente acontece é o indivíduo abandonar o tratamento fisioterapêutico, acreditando que a lesão está melhor, assim que a dor melhora.
Ou então, o atleta amador não faz o tratamento adequado e acaba mudando sua pisada. O resultado disso é que a síndrome da banda iliotibial acaba surgindo na perna oposta.
Portanto, fazer o tratamento adequado é essencial. Essa é uma patologia que pode te tirar dos treinamentos por alguns dias, mas sem tratamento a dor torna-se recorrente e a inflamação pode cronificar, o que aumenta o tempo de tratamento.
Como evitar a síndrome da banda iliotibial?
Para evitar o surgimento da síndrome da banda iliotibial, algumas ações são importantes e são válidas tanto para quem pratica atividade física quanto para quem é sedentário.
- 1 – Evitar aumentos súbitos no volume de treinamento
O treinamento excessivo, sobretudo para corredores, é uma das principais causas da inflamação do trato iliotibial.
É importante entender que se você começou a correr há pouco tempo, não estará com o corpo preparado para enfrentar os 42 km de uma maratona.
Dessa forma, é necessário entender que a corrida é um processo e o aumento do volume de treinamento deve ser sempre de maneira gradual.
Procure um profissional especializado para te orientar nesse processo.
- 2 – Não negligencie o fortalecimento
Se você faz atividade física regular, o fortalecimento tem que fazer parte do treinamento.
Uma musculatura fortalecida estará bem mais preparada para receber o aumento da intensidade ou do volume de treinamento.
O que mais previne lesões na corrida, por exemplo, é o fortalecimento adequado.
Dessa forma, não negligencie o fortalecimento.
- 3 – Não treine com dor
Se surgiu uma dor na lateral do joelho, pare o treinamento.
Muitas pessoas acreditam que a dor faz parte do treinamento, mas esse é um conceito errado. Não se deve treinar com dor!
Quando se treina com dor, a chance da lesão piorar aumenta e com isso, um tratamento que poderia ser mais simples, ganha maior dificuldade e você demorará mais tempo ainda para retornar aos treinamentos.
- 4 – Busque diagnóstico e tratamento adequado
Caso você já esteja convivendo com a dor há algum tempo, é importante que busque o diagnóstico e o tratamento adequado.
Achar que por mágica a dor sumirá não é a melhor alternativa.
Além disso, siga o tratamento adequado, fazendo as sessões de fisioterapia que foram indicadas.
- 5 – Faça as sessões de fisioterapia indicadas
A fisioterapia é a grande aliada e é essencial para que o quadril clínico melhora no caso da síndrome da banda iliotibial.
Quando se chega à clínica de fisioterapia com o diagnóstico de síndrome da banda iliotibial, o profissional fisioterapeuta poderá utilizar técnicas para redução da dor, como eletroanalgesia, laserterapia e massagem de liberação miofascial.
Além disso, haverá um programa específico de fortalecimento da musculatura e treino para melhora do gesto esportivo.
Essas são técnicas, de fato, utilizadas para diminuir a inflamação local e aumentar a reparação.
Exercícios para síndrome da banda iliotibial
Para indivíduos que já sofreram com a inflamação na inserção do trato iliotibial e já passaram pelo tratamento, sabe-se que alguns exercícios são importantes para evitar a recorrência do problema.
- Ostra
Deitado de lado, posicione se possível uma faixa elástica na altura das coxas. Dobre as pernas e abra-as.
Você sentirá trabalhar a região da lateral da coxa.
Repita o movimento ao menos 15 vezes.
- Elevação lateral
Deitado de lado, posicione a faixa elástica na região dos tornozelos e eleve a perna lateralmente.
Caso não tenha a faixa, eleve a perna lateralmente somente e repita o movimento ao menos 15 vezes.
- Ponte
Para o fortalecimento do quadril, deitado de costas, mantendo os pés firmes no chão, eleve o quadril e permaneça com o quadril elevado por alguns segundos.
Uma alteração nesse exercício é elevar somente uma perna para o alto e repetir o movimento ao menos 15 vezes.
Lembre-se de depois executar o movimento com a outra perna.
- Marcha lateral
Em pé, faça o movimento do agachamento (como se você fosse se sentar em uma cadeira), abrindo a perna, dando um passo para a lateral.
Esse exercício também pode ser realizado com uma faixa elástica na região da canela, oferecendo maior resistência durante a execução.
Cirurgia é necessária para síndrome da banda iliotibial?
A grande maioria dos casos de síndrome da banda iliotibial não tem indicação cirúrgica.
O tratamento é eminentemente clínico e com a fisioterapia o quadro tende a regredir.
Com o fortalecimento adequado e a diminuição adequada da carga de exercícios, a tendência é que não haja ressurgimento da dor.
Porém, casos raros, nos quais não foi realizado o tratamento de forma adequada e o processo de inflamação pode se tornar crônico.
Nesses poucos casos, poderá haver indicação de cirurgia, mas são casos raros, uma vez que a maioria dos casos têm resultados positivos com o tratamento clínico adequado.
Conclusão
A síndrome da banda iliotibial tem tratamento adequado, na qual a fisioterapia é essencial e traz resultados positivos.