A artroplastia de quadril é a cirurgia na qual tanto a cabeça do fêmur quanto o acetábulo do quadril são substituídos por uma prótese metálica, de polietileno ou de cerâmica, podendo essa prótese ser cimentada ou não.
Graças à evolução da Medicina e dos materiais protéticos, a artroplasia de quadril se tornou uma das cirurgias mais bem-sucedidas no mundo, podendo melhorar a qualidade de vida do indivíduo que a necessita.
As cirurgias ortopédicas, como é considerada a cirurgia de artroplasia de quadril, representam 45% do número total de cirurgias realizadas no Brasil. Dessa porcentagem, a artroplasia de quadril representa 1,4%.
A grande maioria dos pacientes submetidos à artroplasia de quadril é de pacientes idosos, com fratura de colo de fêmur, acometendo mais mulheres em virtude de pequenas quedas.
Mas esse tipo de procedimento cirúrgico também pode estar ligado a outros grupos populacionais, embora menos frequentes, como jovens, sobretudo após acidentes traumáticos de trânsito, por exemplo.
A fisioterapia tem papel importantíssimo na recuperação do paciente submetido à artroplasia de quadril, devendo iniciar seu tratamento fisioterapêutico ainda no hospital e continuar após a alta hospitalar.
Mas quais são as indicações de uma cirurgia de artroplasia de quadril? E como a fisioterapia pode ajudar na recuperação desses pacientes?
Para entendermos como é a artroplasia do quadril, vamos primeiramente entender como é essa região do corpo.
O quadril, também chamado de região da bacia, compõe uma complexa região do organismo, composta por um grande osso e articulações de inter-relação com o fêmur, o maior osso do organismo.
O fêmur se relaciona com essa região por meio da sua cabeça na região do acetábulo.
O acetábulo é uma superfície côncava, formada pela união do ísquio, ílio e púbis, sendo revestido pela cartilagem articular.
A articulação da cabeça do fêmur com o quadril tem o nome de articulação coxo-femoral ou fêmur acetabular.
Nessa região, há músculos fortes, além de grandes vasos e nervos.
A musculatura do quadril, com as articulações e ossos, é responsável pela execução de movimentos como andar e sentar. Portanto, a estabilidade de todo o conjunto é fundamental para a execução dessas atividades diárias.
Por terem vários músculos, a musculatura da região do quadril pode ser dividida em anterior, posterior, lateral e medial.
Essa musculatura também pode ser dividida de acordo com a ação que ela é responsável, por exemplo, músculos adutores ou abdutores, rotadores laterais e mediais, musculatura flexora, etc.
Dentre os músculos mais importantes, embora todos sejam assim, podemos citar o glúteo médio e máximo, iliopsoas, dentre outros.
De acordo com as diretrizes assistenciais do protocolo gerenciado de artroplasia total do quadril do Hospital Israelita Albert Einstein, as principais indicações para artroplasia do quadril são:
Pacientes com osteoartrose primária ou secundária que não obtiveram melhora com tratamento clínico;
- Dor diária progressiva, de caráter noturno;
- Necessidade de uso diário de medicação analgésica e anti-inflamatória em virtude do quadro de dor;
- Incapacidade de atividades diárias fundamentais, como higiene e vestuário;
- Limitação progressiva de amplitude articular, com evolução para atrofia muscular difusa e fraqueza do músculo glúteo médio.
A principal característica clínica é a presença de dor. Portanto, pacientes com uma condição clínica de pouca mobilidade articular, mas com ausência de dor não são bons candidatos para a cirurgia de artroplasia de quadril.
Os pacientes com maior número de indicações para cirurgia de artroplasia de quadril são idosos, do sexo feminino.
O diagnóstico correto das condições do paciente é fundamental não só para a correta indicação da cirurgia de atroplasia de quadril, como também para o planejamento pré-cirúrgico adequado.
Radiografias da região do quadril, de incidência póstero-anterior e em perfil, são suficientes. Mas dependendo do médico ortopedista que realizará a cirurgia, uma ressonância magnética pode ser solicitada.
Desta forma, a avaliação completa do paciente, seu histórico, seu estado atual, bem como o enquadramento desse paciente nos critérios de indicação, constituem o primeiro passo para a indicação correta do procedimento.
Existem no mercado diferentes tipos de prótese a serem utilizadas para artroplasia de quadril. O tipo de prótese a ser escolhida depende de cada caso e situação clínica.
Os principais tipos de prótese são:
1 – Prótese cimentada
Nesse tipo de prótese é utilizado um cimento ósseo para fixar o componente acetabular na bacia e a parte femoral no fêmur.
O acetábulo, nesse tipo de prótese, é feito de polietileno e a parte femoral de liga metálica.
2 – Prótese não-cimentada
Como o próprio nome indicada, a prótese não é cimentada, mas sim fixada diretamente na superfície óssea, sendo indicada, portanto, para pacientes que tenham boa qualidade óssea.
3 – Prótese híbrida
Utiliza uma parte da prótese sendo cimentada e a outra parte fixada diretamente no osso.
4 – Outros tipos de prótese
Há também próteses bi-polares, utilizadas para pacientes com fratura do colo do fêmur e endo-próteses, que substituem grandes segmentos ósseos.
Os implantes utilizados em cirurgias de artroplasia de quadril tem duração de no mínimo 20 anos, portanto, são feitos de material duradouro e que não deve causar nenhuma reação de sensibilidade ao paciente.
Em relação à maior duração de cada tipo de implante, isso é um assunto muito controverso, uma vez que não há uma indicação específica única, dependendo sobretudo das características ósseas de cada paciente.
Um estudo de 2003 [3], por exemplo, mostrou que um tipo específico de prótese (Modelo AML – Anatomic Medullary Locking) tiveram índices de falha (por soltura) variando de 1,3% a 9% em relação ao componente femoral e de 3% a 15% em relação ao componente acetabular.
- Artroplasia parcial de quadril: envolve somente a superfície articular da cabeça do fêmur;
- Artroplasia total de quadril: envolve a superfície articular da cabeça do fêmur e o acetábulo.
- Artroplasia de quadril de recapeamento: recobrimento da cabeça femoral através de fresagem e retirada da cartilagem, sem osteotomia do colo femoral.
A artroplasia parcial de quadril indica a colocação somente de o implante femoral, mantendo a relação com a cartilagem acetabular do paciente.
Nesse tipo de cirurgia, geralmente se utiliza uma prótese cimentada, sendo indicada para pacientes idosos, com outras comorbidades e baixa demanda funcional, sendo um procedimento mais rápido, com menos sangramento.
Há também cirurgiões que optam por implantes não-cimentados nesse tipo de artroplasia, mas deve-se sempre se lembrar que a qualidade do osso do paciente deve ser suficientemente boa para essa indicação.
Já a artroplasia total de quadril cimentada é indicada para pacientes com qualidade óssea ruim tanto na região do fêmur quanto no acetábulo.
O que define o tipo de prótese a ser utilizada é, muito mais que a idade do paciente em si, mas sim a qualidade óssea que esse paciente possui, sendo avaliada por características clínicas e radiográficas.
A artroplasia de quadril de recapeamento pode ser indicada para pacientes mais jovens e ativos.
Quando corretamente indicado e tendo o suporte de uma boa equipe multidisciplinar, além do apoio familiar, o prognóstico da cirurgia de atroplasia de quadril é bom, com diminuição da dor e retorno da amplitude de movimento em 3 a 6 meses após a cirurgia.
No entanto, é importante ressaltar que podem haver limitações funcionais, sobretudo relacionadas à força muscular e estabilidade postural.
Após um ano, quando as limitações persistem, elas estão relacionadas à velocidade de marcha.
A habilidade de subir escadas também pode representar um desafio, mesmo um ano após a cirurgia.
No entanto, a reabilitação deve ser parte integrante de todo o processo e quando realizada corretamente, pode melhorar sensivelmente a força muscular.
Embora sendo considerada uma das cirurgias mais bem-sucedidas da atualizada, a artroplasia de quadril ainda é um procedimento cirúrgico grande, portanto, as complicações são inerentes à qualquer cirurgia de larga escala.
Dentre as principais complicações relacionadas à artroplasia de quadril, podemos citar a trombose vascular profunda, que pode ocorrer em até 70% dos pacientes que não realizam profilaxia.
Pacientes internados para atroplasia de quadril são considerados pacientes de alto risco para trombose vascular profunda, portanto, a profilaxia deve ser realizada.
A profilaxia significa a prescrição de medicações para evitar a trombose vascular profunda, dentre elas, podemos citar as heparinas de baixo peso molecular, como a dalteparina, a enoxaparina e nadroparina, com 5.000 unidades a cada oito horas.
Outras complicações da cirurgia de artroplasia de quadril incluem tromboembolismo pulmonar, infecções e deslocamento (luxação) das próteses colocadas.
Em pacientes que se submeterão à artroplasia do quadril, uma equipe multidisciplinar deve sempre acompanhar o paciente. Dessa equipe, o fisioterapeuta tem papel fundamental, pois inicia-se a reabilitação do paciente já no próprio hospital, no momento do pós operatório imediato.
Com o paciente ainda internado, o fisioterapeuta é responsável pela orientação em relação a posturas inadequadas, como flexão do quadril acima de 90o.
Além disso, o fisioterapeuta deve orientar sobre a posição do paciente no leito e realizar decúbito dorsal e rotação neutra dos membros inferiores.
Deve-se também ser realizada a elevação dos membros inferiores de 25o a 35o no pós-operatório imediato.
Com o passar dos dias, pode-se iniciar uma série de outros procedimentos pelo fisioterapeuta, ainda durante a estadia do paciente no hospital. É importante lembrar que todos esses procedimentos devem ser realizados dentro do limite de dor do paciente.
Alguns exercícios passivos e ativos de flexão de joelho em decúbito dorsal podem ser realizados, bem como exercícios isométricos de coxo-femoral, exercícios manualmente resistidos de tornozelos e exercícios ativos de artelhos.
É importante evitar exercícios de rotação de quadril por pelo menos 3 semanas, estimulando rotadores apenas com exercícios isométricos.
Com o passar das semanas, alguns outros exercícios podem ser incluídos mas sempre dentro da tolerância do limite de dor do paciente, com exercícios sentados.
Em caso de próteses não-cimentadas, é possível iniciar a deambulação assistida com carga mínima, com andador ou muletas.
À medida que o tempo evolui e o paciente também, novos exercícios podem ser incluídos como exercícios em ortostatismo do membro submetido à cirurgia, com evolução do treino de marcha e de transferência.
Outro fator importante é que o fisioterapeuta realiza movimentos não só relacionados ao membro operado, mas sim exercícios respiratórios, já que complicações respiratórias podem adiar a alta hospitalar.
Com alta hospitalar, é importante que o paciente seja referenciado a um centro de fisioterapia para continuar seu processo de reabilitação.
O paciente após a alta hospitalar, deve manter os exercícios fisioterapêuticos para sua reabilitação em uma clínica de fisioterapia.
Caso não seja o mesmo fisioterapeuta que dará continuidade ao processo, é de suma importância que, o profissional que assumir o caso receba todas as informações sobre o quadro clínico do paciente, como exames de imagens, tipo de prótese instalada, etc.
Inicialmente é preconizado o bem estar do paciente em relação a dor e segurança. Por este motivo o fisioterapeuta pode entrar com um trabalho de eletroanalgesia, associado a técnicas manuais de liberação de tensões musculares e leves mobilizações articulares. Além disso, manter as orientações de comportamento nas atividades de vida diária.
Exercícios para fortalecimento dos quadríceps, associados a exercícios de fortalecimento dos abdutores e rotadores são indicados. A evolução deve respeitar os limites de dor e amplitude, além das condições gerais do paciente.
Mais uma vez, é importante que a série de exercícios seja sempre realizada dentro do limite de tolerância do paciente, que deve ser sempre avaliado no quesito de existência de dor.
O treino de marcha é indicado já inicialmente, e deve evoluir de acordo com a cirurgia realizada (tipo de prótese), desde duas muletas até a marcha normal sem apoio.
A cirurgia de artroplasia de quadril é um dos procedimentos cirúrgicos mais bem-sucedidos da medicina atual.
Para um bom prognóstico do caso, é importante que o diagnóstico seja correto, dentro das principais indicações para esse tipo de cirurgia.
Embora menos frequente, as complicações mais comuns são trombose vascular profunda, infecções e complicações respiratórias. A luxação da prótese também pode ocorrer, sobretudo se o membro operado não for corretamente manuseado.
A fisioterapia deve iniciar-se ainda no hospital, durante o pós-operatório imediato e continuar após a alta hospitalar. O objetivo é restabelecer a movimentação do paciente para que ele possa executar as atividades diárias sem dor.
Dessa forma, a avaliação do paciente durante toda a reabilitação torna-se fundamental.
Referências
[1] Goveia, VR et al. Perfil dos pacientes submetidos à artroplasia de quadril em hospital de ensino. Rev Col Bras Cir 2015; 42 (2): 106-110. In: https://www.scielo.br/pdf/rcbc/v42n2/pt_0100-6991-rcbc-42-02-00106.pdf
[2] Hospital Israelita Albert Einstein – Diretrizes Assistenciais Protocolo Gerenciado De Artroplasia Total do Quadril – Janeiro, 2009. In: http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1331418436Protocolo-quadril.pdf
[3] Boschin, L et al. Atroplasia total do quadril não-cimentada: avaliação das causas de revisão de pacientes com seguimento pós-operatório mínimo de 10 anos. Rev Bras Ortop 2003; 28(10):599-606.